domingo, janeiro 07, 2007

"...enquanto a chuva não para"

"Seu Deus faz plock, meu Deus faz bum"
(Lavra Pessoal)

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Chuva de Janeiro
(Luckenzy)

Todo o Janeiro é sempre a mesma coisa:
Chuva, muita chuva.
que lava as ruas, molha a terra
Prepara o plantio, começa o ano.
Muitos lembram de comprar um para-brisa novo.
esperando mesmo o verão, o sol aparecer, a praia.

Até poderia aparecer o arco-iris pela janela do meu quarto...

...mas a chuva não para de cair,
enche os rios das cidades,
que enchem as casas das pessoas
que se enchem na paciência.
"caiu mais uma casa naquele barranco,
matou mais uma familia, que desastre..."
...e enchem os noticiários na TV.

E assim começa o ano para o povo

o ciclo sempre se renova,
mas a gente esquece,
logo é Carnaval.


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Poderes perdidos
Por Luis Fernando Veríssimo

(Postado no Blog do Noblat - 07/01/07)


Para onde vão os nossos poderes de infância? Não falo da energia e da agilidade que desaparecem com a idade. Falo das coisas que a gente sabia fazer e não sabe mais. Eu ainda sei subir em árvore, por exemplo. Não subo porque não posso, se pudesse subiria. A teoria eu não esqueci. Mas não tenho mais a menor idéia de como se faz uma pipa (pandorga, em gaúcho). Eu fazia pipas perfeitas. Perdi o poder. E era um poder, aparentemente, congênito. Não me lembro de ninguém me ensinar que tipo de madeira usar, como cortar o papel, qual o comprimento certo da cauda, etc. E devo ter nascido já sabendo como se faz cola em casa.

Outros poderes dependiam de um aprendizado. Você desenvolvia sua técnica nas bolinhas de gude com o tempo, jogando às brinca até se sentir habilitado a jogar às ganha. Com o tempo, desenvolvia técnicas vitoriosas para qualquer coisa, inclusive bater figurinha. Fazer funda (bodoque, atiradeira) era mais complicado do que fazer pandorga, dependia de se achar uma forquilha adequada, portanto de uma certa vivência de mato — além de um gosto por matar passarinho — que os urbanos como eu não tinham. Nunca fiz uma funda decente. Mas construí carrinhos de lomba com rolimãs e sofisticados sistemas de direção com cordas, produzi sons exóticos usando só o sopro e as mãos entrelaçadas imitando um pífaro, reproduzi o som de trompete com surdina usando apenas uma folha rachada, inventei umas dezessete formas diferentes de futebol de mesa...

Não sei exatamente como estes poderes se vão. É no fim da infância, claro, mas por que desaparecem tão radicalmente, para nunca mais voltarem? Desconfio que haja uma barganha, um acerto entre estrelas e hormônios na regência das nossas vidas. Uma transferência de jurisdição. Trocamos a onipotência infantil pela puberdade, os prazeres da sabedoria natural pelos prazeres do corpo crescido, o poder da criação instintiva pelo poder da procriação. Não sabemos mais fazer pandorgas mas o que é isso diante dessa maravilha, o nosso sexo, e desse achado, o sexo oposto, e da perspectiva de os dois se encontrarem?


Na adolescência também temos poderes extraordinários, mas quase sempre imaginários. O poder da sedução irresistível, por exemplo, exercido só na frente do espelho mas poder assim mesmo, esperando a sua vez de ser usado. O poder de despir uma pessoa sem que ela se dê conta, só com a força da mente, ou de ficar invisível e ir atrás dela no vestiário. O poder de ser outro, como um artista de cinema ou um intelectual brilhante, em vez de um espinhento tímido. etc, etc.

E estes poderes também se vão.

No outro dia encontrei uma folha do tipo que rachava para imitar um trompete, na infância. Achei que se ao menos conseguisse tirar um som da folha talvez valesse como uma retomada, não me pergunte do quê.

Só saiu um fffff.

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Música do Dia

"Won't you
Won't you a give
Won't you a give a man
Give a man a Home"

Trecho da música "Give a Man a Home", de Ben Harper.
baixar mp3 direto do 4shared, clique aqui

Se caso gostou da música, a letra da canção aqui
Nota: Ter Ben Harper na sua coleção é primordial










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